quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O Relato

A UPA onde trabalho tem um fluxo de atendimento bem simples: as ambulâncias que chegam com pacientes entram pela porta da emergência; o socorrista cadastra o paciente na sala do enfermeiro classificador, que vem até a emergência, classifica o paciente como mais ou menos urgente e comunica a ao médico (mesmo sabendo que a classificação cai no sistema, a gente vai lá no consultório prá apressa o colega). Tudo isso é feito com o paciente sobre a maca da ambulância que o trouxe (SAMU, Remocenter, e por aí vai).

Eis que o meu digníssimo ex chegou anteontem com o SAMU e encontrou a emergência vazia. Não havia paciente algum lá (o dia tava calmo mesmo) e as meninas (num tremendo vacilo), apagaram as luzes lá de trás. Ele, que também trabalha lá, só que à noite, tirou o paciente da sua maca, colocou na nossa maca, monitorou o paciente e desapareceu.

Estávamos com o déficit de duas enfermeiras, e eu fui deslocada prá assistência direta. Tive que ir ter com a peça.

Aí começou: o capeta não quis me responder o quadro do paciente, não me respondeu porque mudou o homem de maca, não respondeu nem o "boa tarde" que lhe dirigi.  Precisei chamar outra colega, que deu-lhe uma puxada nas orelhas, e vi o dinossauro de 1,90m e 130kg dar as costas prá minha amiguinha menor que eu e sair em silêncio.

Claro que tinha que ser relatado. Ele alegou que não tinha ninguém lá, então fez como achou que fosse melhor. Elaboramos o relatório eu e minha colega, mas cometi uma série de erros: relatei no livro aberto da enfermaria, quando deveria tê-lo feito no livro de ocorrência que fica no repouso e é lido pelos enfermeiros somente; EU fiz o relatório, o que acabou dando uma conotação extremamente pessoal ao fato, mesmo que o texto tivesse sido elaborado por duas pessoas.

O fato é que fofoca rola solta no setor, alguém ligou prá ele, contou do relato, ele ligou prá mim querendo satisfações e fomos parar eu, ele e a coordenadora geral da Enfermagem numa reunião prá lá de constrangedora.

Ele foi repreendido por não obedecer os fluxos do próprio local de trabalho, por não ter comunicado ninguém sobre o paciente, e por não ter reconhecido minha autoridade de enfermeira, pois, se um enfermeiro solicita a um técnico informações sobre um paciente, é obrigação do profissional fornecer. Foi lembrado da hierarquia dentro da instituição e orientado a não contestar o fato de uma enfermeira ter sido deslocada de outra função.

Eu fui chamada atenção porque, mesmo não estando responsável pelo setor no momento, deveria ter visto as luzes apagadas e tomado providência. Por ter feito o relatório no livro errado também. Mas o pior ainda estava por vir...

Nossa coordenadora tem mais de 20 anos de carreira com gestão de pessoas. É uma enfermeira brilhante. Ela encerrou a reunião falando que "agora vamos para o bate-papo", de forma quase maternal. Recomendou que eu e a peça rara marcássemos um encontro, sentássemos e conversássemos sobre nós dois. 

Eu fiquei muito puta da vida com aquilo, não falei nada, engoli, mas fiquei. Porque não há nada mais entre a gente (exceto o fato de ele continuar me mandando torpedos, o que me revolta), não namoramos mais e eu SEI muito bem que o pessoal e o profissional não se misturam. Tanto que cumprimento o Negão normalmente na UPA, converso sobre o que quer que seja, dentro do tema 'assistência', tento agir da forma mais profissional possível. Não fico de sorrisos, mas não viro a cara porque sei que ali dentro preciso trabalhar da forma correta.

Porra, ele criou a situação e eu fui obrigada a ouvir algo que não precisava, não mesmo. Eu sei me portar.

Aí eu me estressei. Falei algumas coisas, tentei ser beeem amigável, aconselhei o cara até. Falei que não precisava ser meu amigo, mas que ali dentro a coisa era diferente, que não misturasse as coisas, porque os dois seriam prejudicados. Enquanto eu falava, ele piscava o olho e jogava beijinhos disfarçados. Segurei a onda prá não explodir de raiva.

Mais tarde em casa, recebi torpedinho de "não quero perder você".

Ahh, casa do car$%#&!!! Já tá tocando sua vida, meu caro, me deixa de lado. Custei prá arrumar um lugar perto de casa prá trabalhar, um serviço que amo demais, fiz excelentes amigos, agora vem um encosto me atrapalhar a vida? Soube que a tal namorada dele perdeu o bebê, daí parece que ele tá se sentindo mais livre prá galinhar sem que todo mundo olhe censurando. E eu pareço ser o playground preferido.

E eu nunca fui chamada atenção antes no trabalho. NUNCA. Não foi exatamente uma puxada de orelha, mas fiquei arrasada com a chefe falando como uma irmã mais velha "Lô, você é tão competente, acerta seus ponteiros com fulano prá vocês não terem maiores problemas." Fiquei de cara no chão.

Mas tá bom, passou. Essas coisas servem prá gente reavaliar muita coisa, rever conceitos, posturas. Acrescenta muito. Não posso reclamar de tudo, é verdade. Mas que emputecem também, nem me fale...

Enfim, vida que segue!

5 comentários:

  1. Que situaçao, viu?! Sinceramente, Benzinho que vá pra casa duca...
    eu, hein?!

    ResponderExcluir
  2. E eu tô transparente!!!
    Desse tamanho...

    ResponderExcluir
  3. Mas hein? Ele tem quantos 18 anos de praia, mesmo? Pq toda a situação que ele criou, na minha modesta, humilde e nada abalizadora opinião foi MULECAGE!!! Vontade de pegar pelas folas, e aí...

    ResponderExcluir
  4. Baby, faz dois dias que tento comentar mas não sei porque não consigo em blogs que a ciaxa de comentário abre na página. Só estou comentando em blogs de comentário pop-up...que beleza (#not). Aí tive a idéia de trocar de navegado pra ver o que dava...resultado: tenho que entrar no Explorer (oi, década passada) pra dizer alguma coisa. Anyway, tudo isso pra dizer: "que merda" isso aí, viu. Tomara que 2011 já termine e que a gente seja mais feliz em 2012...Bjs.

    ResponderExcluir

abriram a concha: