terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Ai-ai...

Estou eu ontem na fila do caixa eletrônico do BB do meu bairro prá fazer um saque quando me lembrei que também tinha que fazer um depósito de um cheque que meu pai pediu. Olhei prá trás, meio que sem ver quem estava lá e falei pro cara:

- Me dá só um segundinho, só vou pegar um envelope no balcão.

 O sujeito concordou com a cabeça e eu agradeci a Deus por saber que ele não implicaria com o fato de eu sair da fila, porque o calor estava matando e eu não queria voltar pro final daquele caracol de gente dentro do banco, mesmo com o ar condicionado funcionando muito bem. Quando finalmente retornei, preenchi o papel apoiando na mão mesmo, tamanha a pressa, escuto alguém falando atrás de mim, quase no meu ouvido:

- Não lembra mais de mim?

Tomei um susto daqueles, e olhei rápido prá trás. Vi um homem muito alto, meio descabelado (também, às 2 e meia da tarde, num calor infernal, difícil estar bem), meio acima do peso, um sorriso de lado, um jeito de quem já foi o gato há alguns anos. Passou-se aquele tempo como nos filmes, um segundo que dura dez, quando a gente vasculha a memória toda, sabem? Respondi:

- Deixa eu tentar me lembrar, não fique chateado, sou ruim com nomes, datas, pééééssima fisionomista. E olhei de novo pro mancebo. E o danado sorrindo. Vi na camisa que ele vestia: "Ramalho Locação de Vans". Cara, como em filmes mesmo. Voltei 10 anos no tempo e lembrei:

- Você é o filho do Dr. Honório Ramalho, o pediatra! E é sobrinho de Dr. Ismail, o ortopedista (ótimas as referências, ahahaha, só lembrava do pessoal da área, mas Ismail foi meu médico desde os 6 meses de vida). Marco Antônio? Marco Aurélio?
- Marcus Vinícius! A gente se conheceu no Vital (micareta que aconteceu até os idos de 2004 ou 2005 em Vitória). Lembra?
- Claro, lembro sim.

Putaquepariu! Há 10 anos atrás conheci aquela figura na praia de Camburi, no meio da loucura do Vital, ele de camisa do Vasco e eu de camisa do Flamengo, um zoando o outro, eu bebendo cerveja numa mamadeira lilás - não riam! -  até que o óbvio aconteceu: rolaram uns beijos, e a coisa acabou se encompridando por uns dois ou três meses. Mas já tinha tanto tempo, custei mesmo prá lembrar.

- Como você está? Você continua morando em Jardim da Penha?
- Sim.
- Formou-se em Enfermagem mesmo?
-Sim. E você fazia Comunicação Social na época, não?
- Fazia, mas não trabalho ná área. Abri minha empresa de locação de vans e estou nessa há algum tempo. Trabalha aonde?
- Serra Dourada, mas estive fora por 6 anos, no interior.

Aí vem a pergunta clássica:

- Está casada?
- Não, separada. E sou mãe de um menino lindo de 4 aninhos e 9 meses. E você? (no final das contas eu até entrei no jogo)
- Separado tambem, tenho uma menina de 2 anos. Você tem namorado? Caramba, o ataque já tinha sido literalmente pelas costas, precisava ser tão incisivo? Mas tá bom, vamos lá...
- Não, estou sozinha.
- Lembra que a gente paquerou um tempo?

Sorri sem graça e respondi que sim. Putz, a gente teve uns momentos beeeem calientes...
Chega minha hora de usar o caixa.

- Me espera quando você terminar? Quero anotar seu telefone.
- Claro, espero sim.

Na saída do banco, a van escolar dele parada ao lado do meu carro. Ele correu, pegou papel e caneta (cadê o mágico aparelho de celular?) e anotou meu telefone.

- Desculpa, mas eu também não consigo lembrar seu nome direito, é difícil, vou acabar falando errado.
- Loredana, Marcus.
- Posso te ligar?
- Sim, pode.
- Então tá bom. Te ligo no fim de semana. Foi bom te rever, sabia?
- Igualmente. Preciso ir, tenho que pagar umas contas, sabe como é fila de banco...
- É, eu também tenho que ir.

Abri a porta do carro e o sujeito me toca o braço: "deixa eu te dar um beijo" e me dá três beijos es-ta-la-dos nas bochechas.

- Até, Lô.

Entrei no carro rindo da coisa toda de o mundo dar tantas voltas até as pessoas se encontrarem de novo. Dei uma buzinadinha e rachei no trecho. Cheguei em casa e contei prá minha mãe, que soltou um daqueles muitos comentários que só as mães sabem fazer  - e eu vou acabar sendo assim um dia também, se Deus me permitir:

-É... De tanto rolar, até as pedras se encontram, né?

Que mundo pequeno esse nosso... Que pérola.

*****

Só uma coisa: como diram as meninas do HTP, observe os sinais. Porque anotar num papel à parte, não gravar no celular? Hoje em dia até criança de 4, 5 anos tem aparelho! Sei lá, a pulguinha fica me cutucando atrás da orelha. Papel até pode ser encontrado no bolso da calça, ou no painel da van, mas pode ser telefone de cliente, já que nessa época do ano a gente já começa a acertar transporte escolar para os filhos, pois se não garantir agora, no começo das aulas é quase impossível. Já na agenda do celular... Ah, esse mundo tá tão louco, a gente desconfia de tudo e de todos. Mas vamos ver, neam?

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abriram a concha: