Já contei que minha irmã está grávida.
Ela vem passando mal desde quinta-feira, primeiro com dores abdominais, depois com vômitos e diarréia. Initerruptos. Hoje fomos com ela ao hospital, a Santa Casa de Misericórdia. Foi pelo plano de saúde que a prefeitura de Vitória oferece, descontando do mísero salário de professora dela.
A gente sabe que a coisa mais difícil atualmente é ter um atendimento digno, pago ou não. Pois o que aconteceu conosco hoje foi de revoltar.
A Santa Casa é arcaica. Confesso que não sei de quando data, mas é um prédio antiguíssimo. Corredores estreitos, antigos, mal iluminados e mal-ventilados o suficiente prá você querer sair de lá depois de cinco minutos.
Na recepção da área privada ninguém informa que existe um elevador, que eu ainda não descobri onde fica. Minha irmã e eu subimos uma escadaria enoooorme, de metal, dauqelas antigas, cheia de arabescos, mas que perdeu há muito beleza e funcionaldade. Os degraus rangem a ponto de dar medo. E o pré-parto, onde se atendem gestantes fica no topo desta escadaria. Lá vou eu com minha irmã, subindo devagar. Todas as gestantes, inclusive em trabalho de parto, sobem por ali.
Chegamos ao andar, que estava escuro. As lâmpadas do corredor não acendiam. E o calor! Tocamos o interfone, e esperamos por, no mínimo, uns 10 minutos até alguém vir nos atender. Pediram prá esperar. Esperamos. Com meia hora, tocamos de novo. Uma auxilar de enfermagem colocou a cabeça prá fora da porta e falou: "espera um pouquinho só, já vou te chamar". Isso se repetiu por mais duas vezes. Depois de 45 minutos de nossa chegada, comecei a querer fazer barraco. Bati na porta, argumentei, um outro senhor que aguardava para a esposa ser atendida também se encheu da espera. Aí é que ajguém veio falar: "estamos com três gestantes em trabalho de parto". Perguntei com quantas obstetras elas trabalhavam naquela hora e soube que eram duas.
Bom, depois de mais de uma hora de espera, uma médica com cara de quem ainda escuta música da Xuxa veio até nós, com o que eu chamo de "jeito invocado", nariz empinado, batendo boca - profissionalíssima - gritando que a gente não tinha que reclamar de nada, porque ela não podia deixar os bebês nascendo sozinhos. Eu já tinha implorado prá deixassem a gente esperar o atendimento dentro do setor onde era mais fresco e iluminado. Enquanto minha irmã era finalmente atendida, fui falar coa assistente social, igualmente com cara de quem acabou de receber o canudo, que fez aquela cara de "entra por um ouvido e sai pelo outro". Expliquei que era enfermeira, que nunca em nove anos de profissão eu tinha tido a atitude desrespeitosa que presenciei ali. Que nós devíamos ter sido informadas que demoraria, porque o paciente tem o direito de escolher se vai esperar ou vai buscar outra forma de atendimento. Mas ouvimos somente "daqui a pouco". Oras, falei, eu tenho plena capacidade de compreensão e sei que parturientes não devem ficar desassistidas. Mas tínhamos o direito à informação.
Bom, nem preciso falar que o atendimento foi precário. Minha irmã foi medicada com dipirona e bromoprida, sem que as causas do mal-estar fossem de fato pesquisadas - os dados como vômitos e diarréia fétidos, hálito fétido por mais de 48 horas foram ignoradas. Ajudei na punção venosa, pois ela estava com princípio de desidratação e as veias estavam difíceis.
Vim embora ficar com meu filho enquanto mei cunhado acompanhava minha irmã. Depois meus pais foram buscá-la e fiquei sabendo que sequer alta a tal "médica" foi dar. O soro acabou, mas ninguém foi lá retirá-lo. Minha irmã puxou o cateter ela mesma antes que o ar entrasse pelo equipo.
Me chamem de idealista. Me chamem de sonhadora. Eu não trato paciente assim. Eu não consigo entender como eles não se incomodam com a situação.
Acho vergonhoso. Eu teria vergonha. Eu me incomodo com paciente esperando, embora saiba que a demora ocorre. Eu me incomodo com uma pessoa passando dor na minha frente. Eu me incomodo com gente em pé no corredor esperando, sem conforto.
Eu sei que eu não posso abraçar o mundo, e não peço que ninguém o faça. Mas a nossa parte, essa nos cabe, dessa não podemos fugir.
Não se pode negar que a melhora é nossa responsabilidade!
Concordo com vc Lô.
ResponderExcluirSe cada um brigasse pelos seus direitos, tudo melhoraria. Só que é a longo prazo e nêgo é imediatista e quer resolver só o seu problema e na hora.
O atendimento hospitalar de hoje é uma vergonha.
Um médico te atende em menos de 10 minutos e nem te olha direito. Pouco enconsta em vc.
É uma pena que existam profissionais que destruam toda uma classe..pois sei que não é a regra e não quero generalizar..mas é foda o que fazem com a gente.
Entendo sua revolta.
Eu tenho plano de saúde e o atendimento aqui no Rio, mesmo com plano, é igual ao SUS.
Uma vergonha.
Tu precisa estar morendo na fila pra ser atendido.
Domingo saiu a rreportagem no jornal de maior circulação do estado: cronometrando, uma paciente esperou: 5 horas pelo atendimento. Duração da consulta: 1 minuto!!!
ResponderExcluirah Lô, a coisa é péssima em todos os lugares. Como vc falou, público ou particular a coisa está feia. Já perdi as contas dos barracos que já fiz ou presenciei devido ao mau atendimento.
ResponderExcluirlamentável!