domingo, 9 de maio de 2010

Sobre o dia de hoje

Qquando eu descobri que estava grávida, o céu despencou na minha cabeça. Sim, porque eu nunca tinha feito planos de ter filhos na minha vida. Porque eu nunca gostei de crianças, nunca mesmo. Quando visitava minhas amigas que tinham parido, não chegava perto demais, nunca pegava no colo. As crianças parecem saber quem gosta delas, porque elas também nunca se aproximaram muito de mim., ao contrário de minha irmã, que tem ímã prá pirralhos, e acabou virando professora. Ironicamente, ela engravidou em 2008 e sofreu um aborto espontâneo - e o céu despencou na cabeça dela também!
Eu sempre fui egoísta demais. Sempre pensei em mim demais. Então, quando me vi grávida, só imaginava que era injustiça logo eu, que queria ver tantos lugares, visitar tantos países, fazer tanta coisa, ficar presa em casa por causa de um bebê.
Mas era curioso... Ao mesmo tempo eu olhava a barriga todos os dias prá ver se tinha crescido. Não importava se o corpo ia ficar uma lenha - e ficou mesmo, hihihi - eu ficava numa curiosidade danada prá saber como EU ia ficar.
Nos nove meses de gestação tive o período mais auto-confiante da minha vida. Eu não sabia de onde via, mas achava a sensação o maior barato. Não era modesta, gostava de receber os elogios (nunca consegui discernir quem estava sendo sincero, dane-se) e vivia de nariz empinado.
Uma coisa legal foi quando vi o sexo do bebê, porque, embora nunca tivesse planejado dar cria, sempre comentei que se me acontecesse, não queria ter uma menina, porque acho meninas sem graça, delicadinhas demais.
No dia do parto, um 24 de fevereiro quente prá caramba, sol de rachar, passei um dia super bacana, fui prá maternidade à tarde e tudo ia bem até a hora em que a auxiliar veio me buscar prá ir para o centro cirúrgico. Minha amiga Dentista, lindona, estava comigo para fotografar o parto, e percebeu minha preocupação. Conversou comigo, mas ela achava que eu estava com medo da cirurgia em si. Nada disso.
Quando veio o primeiro choro, não vou ser hipócrita: chorei junto de pavor. Na minha cabeça só me vinha um pensamento: e agora? Olhava o menino, gordinho e cor-de-rosa, e matutava o que eu ia fazer com aquela criatura que eu, definitivamente, não tinha escolhido ter.
O tempo foi passando. Adorava amamentar, prá começo de assunto. O danadinho ficava com a outra mãozinha encostada no meu peito e de vez em quando abria os olhinhos e me encarava. Achava um barato. Nunca fui exibida, mas se ele pedisse peito enquanto estávamos na rua, tudo bem. Nunca ninguém me condenou por isso, e se falasse alguma coisa, juro que mandava ir passear naqueles lugares liiiindos prá onde a gente manda todo mundo de quem a gente não gosta. Mas no geral as pessoas elogiavam, achavam bonito uma mãe alimentando o filho com o próprio corpo, e eu achava superlegal.
Hoje eu ainda me pego pensando em como seria minha vida sem Filhote. Onde eu estaria, o que estaria fazendo, com quem estaria, essas coisas. Algumas eu consigo vislumbrar, outras simplesmente não me vem à cabeça. Em cinco anos eu aprendi e aprendo um monte de coisas novas, que renovaram meus conceitos e prioridades.
Gosto da alegria dele quando chego prá buscá-lo na escola, dos beijos de manhã cedinho aos sábados, dos olhinhos brilhando ao ganhar um simples chocolate, das descobertas e até das travessuras. Ainda me irrito, nunca fui paciente com crianças, às vezes perco as estribeiras muito fácil. Mas a gente vai se adaptando.
Maternindade é uma condição permanente. E é legal. Mães tem o direito de se sentar no meio do chão da seção de brinquedos das Lojas Americanas, de falar com voz infantil, de pedir na loja da vivo que me dêem um bonequinho daqueles da decoração da vitrine, só porque "ele adorou e não pára de apontar" e ganhar.
Enquanto tanta gente se descabela prá ser amado por alguém, eu não passo por esse drama. Eu não tenho que emagrecer prá ser mais admirada. Eu sequer tenho que provar para as  pessoas que sou muito capaz de algo. Normalmente recebo o título de 'toda poderosa e toda boa' todo dia. É para poucos...
Não tenho esse dom de abdicar da minha vida toda em função de filho, então realizo diariamente a ginástica de dedicar tempo ao Filhote e a mim. Busco sempre prover meu coração daquele carinho diferente que ele não pode me dar, gosto de estar com os amigos fazendo o que sempre fiz, saindo, bebendo, curtindo. Sei lá se é mais difícil viver assim, mas eu vou levando. No fim das contas, tudo se ajeita e vai dando certo.
Hoje não sei mais se foi um 'acidente', mas eu sou mãe. Sou a concha, e produzi uma pérola incrível. Se  nada acontece por acaso, vou sair do meu camarote e atuar no espetáculo que a vida me destinou. Se eu for apenas mediana, já vai estar bom. Afinal, me mandaram um parceiro e tanto de cena...

Um comentário:

  1. Feliz dia das mães super mãe capixaba!!! Parabéns não só pelo dia mas pela pessoa incrível que você é! Beijosss

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abriram a concha: