quarta-feira, 23 de março de 2011

"Eu estou com nojo da Justiça"

Bom dia!

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 A frase acima não é minha. Claro, talvez eu não tenha tido oportunidade de proferir tal sentença, e provavelmente muitos compartilham tal sentimento comigo, mas não fui eu quem disse.
Quem falou isso foi um senhor, um cozinheiro, pessoa humilde, de 47 anos, que sofreu uma verdadeira mutilação essa semana.
Há dois anos e 10 meses uma viciada em crack deixou um bebê na porta deste senhor, que mora com a esposa, uma dona de casa de 40 anos, e um filho de 18 hoje. A menina tinha menos de um mês de vida e a mãe biológica pediu ao casal que 'tomasse conta' da menina por uns dias. Claro que a mulher nunca mais apareceu.
O casal, na época, fez o certo. Avisou a justiça, e depois de um mês, a menina foi encaminhada a um abrigo do Conselho Tutelar. Mas eles a visitavam todos os dias e pediram a guarda da criança. Foram atendidos com guarda provisória, e o pedido de adoção foi feito.
Depois de quase dois anos com a menina, uma promotora de justiça suspendeu a renovação da guarda e negou, NEGOU o pedido de adoção.
A menininha, que já reconhecia aquelas pessoas como familiares, e tinha os 'pai e mãe', os 'irmãos' os 'avós', como ela mesma falava, foi tirada daquela família.
A justificativa da promotora é que existem mais de 700 casais na fila prá adoção, e que o processo tinha que ser seguido.
Eu não sei o que falar. Eu narrei o fato aqui, mas eu não sei o que falar. Porra, tá, tem 700 famílias esperando. Mas essa já adotou! Já esteve com a criança por quase três anos! A menina já estava adaptada, ambientada. Já tinha pai, mãe, irmão. Entendo quem está esperando, mas tirar uma criança do seio de uma família é um ato de um egoísmo ímpar! Isso é paternal? Então tudo se resume, na adoção, a tirar daquele e dar pro outro, não levando em conta sentimentos, algo tão essencial?
Agora, a menininha que tinha um lar, volta pro abrigo, volta pro orfanato, vai esperar um casal ir lá, olhar todas as crianças, escolher uma com a qual se identifica. Se ela for escolhida, passa por todo aquele processo de adaptação, aos poucos. Se a família não gostar dela, devolve - eu acho isso muito estranho, mas tudo bem, antes adoção do que criança na rua. Eu seria insensível se dissesse que, se não pode ter filho, conforme-se; Deus me presenteou com o dom da maternindade, sou privilegiada e é feio tripudiar quem não pode.
Atentemos para o fato de que, no Brasil, é sabido que os casais não gostam de adotar crianças grandes; a maioria prefere os bebês. Isso aumenta a chance de esta criança ficar por longos anos à espera de uma família que talvez nunca chegue.
Especialistas procurados pelo jornal onde foi veiculada a notícia se apressaram em setenciar: os prejuízos psicológicos são muitos, principalmente prá criança. Dããã, só a promotora não sabe (e fico me perguntando: essa mulher é mãe?)
Claro que a briga não vai acabar por aqui. Claro que muita gente ainda vai querer entrar na batalha, dos dois lados. Nem preciso falar por quem torço. Antes, pela felicidade da pequena. Depois, pelos pais que a criaram por quase três anos, que deram amor, carinho, alimento pro corpo e prá alma.
E, enfim, eu também estou com muito nojo da Justiça.

5 comentários:

  1. E eu também estou com nojo dessa injusta justiça!
    Incrível, Lô! Incrível mesmo, no mais literal dos significados: de não crível.
    Não só me dá pena da criança que, como você disse, está entregue a uma sorte divina de voltar a ser adotada. Mas, também, de todo o seu entorno, dos pais adotivos, do irmão adotivo, dos amigos da família, do quartinho feito para ela, da vida, da casa, das risadas... Meu Deus!!! Que juíza é essa????

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  2. Completamente entristecida aqui. E eu também estou com nojo da Justiça.

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  3. Justiça???
    A maneira como ainda, INFELIZMENTE, são conduzidos casos de adoção no Brasil, me entristece muito... Estrangeiros podem levar nossas crianças para ficarem sabe Deus onde e como, e brasileiros sofrem nas filas de adoção... Ridículo. #indignada

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  4. Hoje saiu no jornal: um casal convivei por 3 anos com uma criança e, na hora da adoção, um casal italiano teve a preferência. Pode?

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  5. não é preciso ser mãe para ter sensibilidade.
    essa seria uma questão de direito ja que o casal assumiu esta criança.
    mais uma da BURROCRACIA !

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abriram a concha: